AVISO 1: Não recomendado para menores de 18 anos.
AVISO 2: Essa história não tem a intenção de ofender a crença/religião de ninguém.
AVISO 3: Não recomendo para pessoas sensíveis.
AVISO 4: A historia terá 4 partes, que serão postadas as quartas-feiras.
AVISO 5: Ela também foi postada no Wattpad, quem tiver preferência em acompanhar por lá, basta clicar no titulo da historia a seguir: OS PECADOS DE UM VAMPIRO
Capítulos Anteriores:
O que eu fiz? Assassinei minha família. Cometi o pior dos pecados.
Naquela nebulosa noite eu sujei minhas vestes e comecei uma vida de pecados imperdoáveis. A escuridão passou a fazer morada em mim e não importa o quanto tentava vencê-la, ela era mais poderosa que a luz.
Estou sentado no fundo da sessão do cinema, sorrindo irônico enquanto assisto, na penumbra, os semblantes animados das pessoas — em sua grande maioria adolescentes — com a cena trágica do vampiro sugando, grosseiro e desumano, o líquido vital da vítima.
Eles são sádicos por apreciarem a cena tanto quanto sou masoquista por estar aqui, recordando e sofrendo por cada vítima que fiz ao longo dos anos, principalmente pelas duas primeiras, aquelas que eram o meu bem mais precioso e que eu amava.
Mesmo após anos, ainda vejo claramente na minha memória os corpos pálidos e sem vida, me recordo com exatidão da angústia e desespero que me obrigou a abandoná-los naquela ‘igrejinha, que me dedicava a servir ao senhor e que foi a única a presenciar o terrível pecado de um pastor.
Atormentado, corri, fugindo dos meus crimes, porém, eles continuam me perseguindo nas lembranças.
Os primeiros anos como vampiro foram os piores, não tinha nenhum controle sobre a besta que me tornei. Matei pessoas ao me alimentar, muitas delas inocentes: pais de família, adolescentes festeiros, prostitutas, etc. Fiz mães, irmãos, namorados chorarem por entes queridos que não voltaram para o lar por culpa de um pecante, que até hoje é incapaz de vencer as trevas que lhe consome.
A cada óbito outro pecado e mais escuridão.
Com o passar do tempo fui aprendendo a ter um mísero controle e descobri que se me alimentasse numa base regular não perderia a razão e acabaria matando a vítima. Deixei de assassinar as presas, entretanto, preciso seduzi-las e enganá-las através da arma mais memorável de um vampiro: sua habilidade de hipnotizar e — após se alimentar — apagar a memória.
A cada noite é um indivíduo diferente, que “dopo” com a hipnose, que uso sem permissão e que, ao fim, faço desaparecer qualquer resquício de lembrança do breve encontro que teve comigo, seu abusador.
Abandonei a vida de homicida e me tornei um abusador.
Me aproveito da fragilidade das vítimas e roubo o líquido valioso. Alguns vampiros dizem que isso não nos faz mau, é mentira, eu sei, não me iludo para esconder meus sacrilégios.
“Não roubarás”
“Não enganarás ninguém.”
Esses versículos estão na bíblia e são a prova que continuo sendo um pecador, por mais que já não mate. De que adianta o arrependimento, ser atormentado pela culpa, se para agradar a besta levo pessoas para um quarto de motel barato ou para um beco escuro, lhe dispo de sua vontade e bebo o seu sangue?
Que perdão pode haver para mim?
Pecador.
Dia após dias, continuo pecando, indo contra os ensinamentos bíblicos que sempre acreditei, e como punição carrego a culpa que me corrói, que me sufoca e me acusa constantemente.
Enquanto para esses indivíduos que estão assistindo o filme o teatro do vampiro se alimentando é agradável e excitante, para é uma lembrança maldita das vítimas que fiz…
Ontem mesmo, em um beco, atrás de uma boate, estive com um cara, que não me recordo o nome. Era um jovem bonito, de pele moreno, careca e de olhos castanhos. Apenas mais uma presa como qualquer outra, que me olhava com lascívia e que se entregou pelo poder da minha habilidade.
Pobre rapaz.
Excitado pela mordida venenosa, se esfregava contra minha pélvis, enquanto eu, esfomeado, me embebedava com o seu inebriante sangue.
Quem olhasse de longe, imaginaria que eram dois caras pervertidos com tesão. Tolos. Eu estava usurpando o sangue do rapaz, me fartando com o líquido vital de alguém que só se encontrava submisso em razão da hipnose e excitado por causa da mordida.
Quando o jovem, drogado, me abraçou pela cintura e me puxou para mais perto, pressionando ainda mais nossos corpos juntos, e sua respiração sôfrega soprou no meu ouvido, uma recordação piscou na minha mente. Eu estava pregando no altar sagrado, enquanto a minha esposa estava no banco que ficava em frente, sorrindo, e o meu filho me fitava, impaciente, ansioso para ir brincar.
Angústia martelou no meu peito, trazendo gotículas de sangue aos meus olhos.
Ao terminar, me afastei, fitando a face corada e desnorteada.
— Muito obrigado — agradeci, ainda que ele não tivesse concordado em estar ali.
— Do que está falando cara? — o rapaz perguntou com voz grogue e olhar confuso.
— Vá para casa, durma bem e esqueça o que aconteceu aqui — ordenei, mantendo seus olhos prisioneiros dos meus. — Tenho que ir, novamente obrigado.
Sem esperar resposta, caminhei para fora do beco sujo, deixando-o sozinho com os pensamentos embaralhados. Mais uma vítima que jamais tornarei a ver, que não se lembrará de mim, mas que recordarei do sacrilégio que cometi com ela.
Sou arrancado do devaneio quando as letras começam a subir na tela de projeção e as pessoas passam a se mover, deixando a sessão de cinema. Permaneço mais alguns minutos, até a sala esvaziar, para só então levantar e caminhar para a saída.
Por ser quase meia-noite, o shopping está praticamente vazio e os que assistiam ao filme dispersam rapidamente. Ao deixar a construção, sinto o vento em meu rosto e inspiro o ar fresco da noite. Como não quero voltar para casa, sigo pela calçada, andando sem destino certo, pensando se algum dia conseguirei escapar dos pecados que pesam no meu ombro.
Nos primeiros anos como vampiro tentei, bravamente, lutar contra a escuridão que se estendia sobre minha alma como um cobertor, mas, após tantas mortes, tantos abusos e tanto sangue, a fé de que tanto me orgulhava minguou e me convenci que a luz nem sempre pode vencer as trevas.
Abel estava certo.
A luz não pode vencer a escuridão de um vampiro.
Pouco importa que eu não deseje matar e beber sangue, as trevas que habita em mim é mais poderosa; nem mesmo as orações e súplicas sinceras são capazes de vencê-las.
Como fui ingênuo em pensar que a luz sempre é mais poderosa, de confiar que Deus estende a mão e ajuda seus filhos a vencer o fardo que enfrentam.
Gargalho, alto, na rua solitária, feito um louco.
Mais cinco minutos de caminhada, vejo um bar aberto, com meia dúzia de homens bêbados conversando na porta.
Hoje é um bom dia para tentar se embebedar, mesmo sabendo que o álcool não afeta um vampiro.
Entro no boteco, que, como o esperado, tem um forte odor de álcool e cigarro, me desviando de um homem cambaleante e me aproximando do balcão. A atendente, uma mulher loira e jovem, me olha com rispidez ao me ver sentar no banco sem encosto.
— Me vê uma garrafa de vodka, uma de velho barreiro e um copo — digo antes que ela pergunte.
A minha consciência tem milhares de vozes,
E cada voz traz-me milhares de histórias,
E de cada história sou o vilão condenado.
William Shakespeare
Penúltima Parte postada. No próximo descobriremos como acabará a historia de um vampiro amargurado. Esse capítulo tive um pouco de dificuldade por medo de escrever algo errado, que ofendesse, mas agora, que terminei, estou satisfeita com o resultado. Espero que tenham gostado.