AVISO 1: Não recomendado para menores de 18 anos.
AVISO 2: Essa história não tem a intenção de ofender a crença/religião de ninguém.
AVISO 3: Não recomendo para pessoas sensíveis.
AVISO 4: A historia terá 4 ou 5 partes, que serão postadas as quartas-feiras.
AVISO 5: Ela também foi postada no Wattpad, quem tiver preferência em acompanhar por lá, basta clicar no titulo da historia a seguir: OS PECADOS DE UM VAMPIRO
— Acredita mesmo nessa asneira? Vou lhe mostrar como é impossível vencer as trevas, pastor Miguel. Hoje te condenarei a viver na escuridão por toda eternidade, esta será sua punição por ter me feito acreditar que havia esperança.
A sentença estava dada.
Sem tempo para recursos ou despedidas, ele pressionou seu corpo no meu, agarrou os meus pulsos e os prendeu na parede, acima da minha cabeça, mantendo-os ali com uma única mão. Desesperado, eu me debati, tentando me soltar, porém, ele era bem mais forte e me manteve aprisionado com facilidade.
— O que vai fazer Abel? Pense bem! Não ceda a escuridão, ainda dá tempo.
Confuso, alarmado e, pela primeira vez em muito tempo, sentindo vontade de chorar, vi o Abel morder seu pulso esquerdo até o sangue escorrer e, em seguida, ele o forçou nos meus lábios. Não. Pecado. Errado. Eu não posso fazer isso. Por mais que soubesse que era uma profanação beber o líquido vital de criaturas vivas, eu parecia estar tomado por um espírito maligno, pois, abri minha boca e suguei seu pulso, engolindo o fluido vermelho, enquanto a culpa cravava em meu peito como estacas.
Aquele foi apenas o primeiro dos vários pecados que cometi naquela noite.
“Oh Deus! Me perdoa. Por favor pai, perdoa seu filho.” — Enquanto lamuriava tais pensamentos, meus braços caíram e antes que pudesse refletir, presas afiadas enterraram, bruscamente, na minha jugular. Gritei ao sentir a mais terrível dor circular pelos meus vasos sanguíneos, queimando meu sangue. Tão rápida quanto ela chegou, foi-se embora, dando lugar a mais indecorosa excitação.
Meu segundo sacrilégio daquela noite.
“Pai, me perdoa. Estou pecando, perdoa seu filho, sou humano, tenho a carne fraca, eu lhe imploro senhor, me perdoa.” — Estava exasperado, meu corpo inteiro estava acesso, sensível, meu membro duro. Eu me esfregava contra a pélvis do Abel, que continuava bebendo o meu sangue e eu o dele. Não queria aquilo, mas não conseguia ir contra, estava preso em alguma espécie de feitiço que me impedia de lutar.
— Pare. Por favor. É errado. Abel, me escute. — implorei, sussurrando, contra seu pulso, engasgando com o sangue.
Ele não parou.
Aquela era a minha punição.
Eu estava no altar em que pregava a palavra de Deus, debaixo da imagem de Cristo, duro por um homem e tomando o sangue dele. Lágrimas caíram e a angústia aumentou no meu peito. Eu não queria aquilo, não o desejava.
Abel não me tocava de maneira íntima. O meu corpo havia reagido quando ele me mordeu, parecia até uma espécie de afrodisíaco irresistível, pois, eu não o queria, repudiava-o na mente, porém, meu membro ficava a cada sugada em meu pescoço mais estimulado, mais perto de um orgasmo.
Pecador.
Tudo ficava a cada segundo mais caótico e perguntas desconexas dançavam embaralhadas na minha mente.
Como ele era capaz de abusar tão friamente de mim? Como ele podia continuar bebendo meu sangue? Me forçando a beber o dele? Por que ele permitia que eu me esfregasse tão lascivamente contra ele, buscando alívio para a minha libido? Por que eu estava excitado?
Naquela época eu que não sabia que a mordida de um vampiro causa excitação, essa é sua arma para atrair a presa. Não era minha vontade. O veneno dele na minha corrente sanguínea me tornou um drogado excitado, que implora por sexo mesmo não querendo, gostando ou não.
Quando ele afastou o pulso dos meus lábios, pensei que finalmente estaria livre. Tolo Miguel. Os planos de Abel eram outros. Ele continuou bebendo meu sangue, ouvindo meus gemidos fracos no pé do seu ouvido. O que aparentou ser minutos se passaram, quando um estado de entorpecimento e formigamentos foi tomando meus membros, dos pés a cabeça, minha garganta secou e pontos pretos piscaram na minha visão sucessiva vezes…
Abri os olhos, encarando ao redor desorientado. Eu me encontrava sentado, recostado na parede, no chão do altar. Abel estava em pé, na minha frente, me fitando com aquele mesmo olhar louco de antes.
— Boa sorte tentando não matar sua família.
Não dei a devida atenção que deveria aquela frase, estava me esforçando para fazer o mundo parar de girar. Fraco, tentei me erguer, mas cai quando uma dor dilacerou o meu estômago, me fazendo deitar no chão e cobrir minha barriga com as mãos. Ergui meus olhos até a imagem de Jesus e clamei por misericórdia, que me libertasse daquele padecimento, que agora passava para os meus outros órgãos. Chorei. Gritei. Solucei. Orei a Deus entre vômitos, dores insuportáveis e tonturas, todavia, ele não me escutou.
Era daquela escuridão que o Abel estava falando?
Após horas, a agonia simplesmente cessou, sem aviso ou pedido de desculpas, ela se foi e me deixou jogado, solitário, no assoalho gélido da igreja. Porém, ela levou algo de precioso, minha luz, e me presenteou com as trevas.
[…]
Vazio.
Algo valioso fora arrancada de dentro, deixando um buraco negro no lugar, um espaço frio, ausente do calor que eu sentia horas atrás. Deitado no altar, eu encarava o teto com olhar vago, sentindo-me diferente do que eu era a poucos minutos atrás.
A tempestade havia suavizado, se tornado uma melancólica garoa, que chorava a morte que em breve visitaria os cômodos que ficavam atrás da Igreja, enquanto uma descomunal fome corroeu meus sentidos, tornando-me um animal.
Comer.
Eu precisava me alimentar.
Lentamente e com dificuldade, me levantei e, cambaleando, caminhei para a portinhola, que ficava na parte detrás da Igreja, e parei no umbral, segurando a maçaneta. Os meus sentidos foram invadidos pelos perfumes que permeava o ar, eram os odores do sabonetes da minha esposa e do meu filhinho.
Me segurando na parede, devido à fraqueza, me arrastei devagar pelo corredor até chegar ao primeiro quarto. Abri a porta, entrei e fiquei estático, no escuro, escutando o sangue bombeando e os batimentos cardíacos da pessoa adormecida. Comida. O meu estômago rugui e minhas presas desceram.
Dei um passo à frente.
Não.
Mais outro.
Não faça isso Miguel, ela é sua esposa.
Mais dois passos eu estava ao lado da cama, fitando-a com angústia. Ela dormia serenamente, com uma camisola branca e um cobertor azul. Tremendo, eu me ajoelhei e apoie o cotovelo direito no colchão, deslizando os dedos com suavidade pelos fios loiros delas.
Pai, não me permita fazer isso, eu lhe imploro senhor, tire esse demônio de mim.
— Miguel?
Ela me olhava sonolenta, seus ‘olhinhos não me enxergavam no breu do quarto.
— Sim, amor.
— O que está fazendo acordado?
— Me perdoa, amor. — sussurrei com a voz embargada.
Antes que ela falasse mais alguma coisa, cobri a boca dela com a mão esquerda, virei sua cabeça, me curvei e cravei as presas na delicada garganta, que outras vezes enchi de beijos. O sangue bateu no meu paladar no mesmo instante que ela começou a se debater violentamente. Que gosto estonteante. O pouco de sanidade restante, de luz que existia, desapareceu naquele instante, me tornei o monstro que bebia daquela seiva como um animal descontrolado, sem respeito pela sua presa, até secá-la, até não restar uma única gota de vida em seu belo e jovem corpo.
Quando me afastei do corpo desfalecido, ainda não estava satisfeito, precisava de mais. A escuridão precisa se fortalecer, necessitava de mais sangue. Deixei aposento apressado e entrei no próximo.
Nele dormia um garotinho de seis aninhos, abraçado com seu ursinho de pelúcia.
Como toda racionalidade desaparecerá, eu não o reconheci, não me importava quem era o menino de pijama listrado, apenas avancei e o ataquei. Um segundo antes de afundar as presas na sua garganta escutei “papai”, mas aquela palavrinha significado algum teve. Eu me alimentei dele, bebi o sangue inocente dele, até ele se tornar um cadáver.
A consciência voltou — melhor teria sido se ela nunca retornasse — quando me ergui e fiquei por longos minutos olhando o defunto pálido na cama. Filetes de sangue deslizaram pelas minhas bochechas conforme a aterradora realidade do que tinha acabado de fazer caiu sobre mim como uma avalanche de neve.
Meu filho, meu bebê, meu bem mais precioso. Eu matei o meu filho.
Gritando, cai de joelhos, chorando sangue.
O que eu fiz? Assassinei minha família. Cometi o pior dos pecados.
Naquela nebulosa noite eu sujei minhas vestes e comecei uma vida de pecados imperdoáveis. A escuridão passou a fazer morada em mim e não importa o quanto tentava vencê-la, ela era mais poderosa que a luz.
O homem pode suportar as desgraças, elas são acidentais e vêm de fora: o que realmente dói, na vida, é sofrer pelas próprias culpas.
Oscar Wilde
Esse Capítulo foi bem tenso né? Gostei bastante de escrevê-lo, por mais que desperte sentimentos angustiantes. O Miguel é aquele personagem que já tenho um grande carinho, que compartilho do sofrimento dele enquanto escrevo. Imagina você matar as pessoas que você mais ama, pq não consegue se controlar. Esse fardo ele carregara o resto da vida.