Capítulo Único
A menina sorria, sorria e sorria. Sempre sorrindo. A todo momento. Ah como seu sorriso era belo, meigo e magnífico. Tão raro, tão simples. Daqueles que faz o dia de quem o vê melhorar consideravelmente. Não havia quem não notasse a perfeição no deslumbrante sorriso da menina. Mas não era somente o sorriso sempre sereno que atraia as pessoas: a menina também tinha uma personalidade única. Sua personalidade contrastava com seu sorriso. A menina humilde, sempre, sem importar a situação, tinha palavras amigas e pensamentos positivos para transmitir aos amigos e aqueles que lhe cercavam, interessados por sua luz. Os que viviam e conviviam consigo aproveitavam de sua tola ingenuidade e bondade. Cobravam de si continuamente, dia após dia, os sorrisos estonteantes e os conselhos sinceros. Eles a queriam por perto simplesmente porque apenas sua presença lhes fazia sentir melhor. Estavam tão interessados em si mesmo que ignoraram e fingiram não ver que a menina que sempre sorria e estendia as mãos a quem pedisse, era quem mais precisava de ajuda e de um sorriso. Foram várias as ocasiões em que ela gritou, lhes implorando por socorro através das suas orbes tristes. A menina suplicou que a salvassem de si mesma. Mas eles não quiseram escutar o angustiado pedido. Nenhum daqueles que a obrigava, cobrava e a forçava sorrir quis enxergar o sofrimento tenebroso que pintava os olhos claros. Queriam o sorriso da menina, a ajuda que ela oferecia sem pedir nada em troca, mas recusaram a lhe conceder, ao menos um pouco, o mesmo tipo de atenção que recebiam. E hoje, quando lhes perguntam porque não estenderam a mão, eles respondem que não sabiam sobre os problemas que ela enfrentava. Fingem desconhecer a dor que ela tanta vezes lhes disse e falam com tamanha coragem e afinco que a menina do sorriso estava muito bem antes do fatídico dia. Por mais que, no fundo, todos saibam que cada uma de suas palavras não passam de mentiras. Eles viram, muitas vezes, que por trás do sorriso deslumbrante existia uma profunda dor enraizada, que ficava visível e escancarada na imensidão dos olhos delineados. Diferente do seu sorriso, as orbes, espelho da alma, estavam sempre tristes. E foi justamente através do espelho da alma que a menina suplicou-lhes que a salvassem. Só que eles eram egoístas demais para dar a menina devida importância. Estavam apenas interessados em usá-la para tornar melhor suas próprias vidas medíocres. E naquela chuvosa noite em que a menina desistiu, pulando do precipício e mergulhando nos braços da morte, na face deles delineou a incredulidade. Como assim a menina que sempre sorria havia se matado? Era surreal e inacreditável, não fazia sentido algum. Diziam “Mas ela estava tão bem, melhor do que todos nós, ela sempre estava sorrindo.” A descrença perdurou pouquíssimo tempo, somente o suficiente para absorverem a informação. Quando finalmente aceitaram a morte da menina, decidiram que deveriam encontrar o culpado. Quem era o criminoso por tão vil crime? “Não fui eu.” “Sou inocente.” “Não sabia que ela não estava bem.” Esses foram os pensamentos e argumentos deles. Como todos eram inocentes, ao fim, só restou uma única pessoa responsável. Nomearam como réu a menina, esta que também era a vítima. E aqueles que negaram ao pedido de socorro feito milhares de vezes, julgaram a menina e a condenaram ao inferno por cometer imperdoável pecado.
Bom, hoje eu não vou falar muito, porque quero que cada um interprete com sua visão. Espero que consigam capturar e entender a mensagem do texto. Essa prosa é muito especial, está entre meus escritos que mais tem significado para mim, não são apenas palavras escritas em vão.